Há muito tempo escrevi no blog sobre a confusão um pouco pedestre sobre meio e mensagem no caso dos grafites e o governo Haddad.
Lendo como se organizou a discussão pública sobre o Festival de Cinema de PE – seu cancelamento, por conta do boicote de sete entre os participantes em resposta à programação de dois filmes de “direita” – resisto com a mesma perplexidade.
Um documentario é um documentario, um filme é um filme. O documentário ser sobre Olavo de Carvalho não faz dele um “documentario conservador” assim como um filme sobre o Plano Real não é necessariamente um filme de direita (ahimè!).
Em arte, ser conservador ou revolucionário diz respeito ao trato com a linguagem. Ser de direita ou de esquerda, diz respeito a valores. O primeiro destes elementos lida com forma, outro com, vá lá, metafísica – nem um nem outro fala sobre o filme ser bom ou mal.
Clint Eastwood e Terence Malick são conhecidos autores com valores de direita; um é conservador no trato da narrativa, outro mais ousado e experimental. Oliver Stone e Jean-Luc Godard são célebres diretores de esquerda – e nada mais conservador que a narrativa de “Platoon”.
Não vi “O Jardim das Aflições”, e hoje estréia “Real: O Plano por Trás da História”. Amigos que viram não gostaram. Na eventualidade de serem horríveis, o serão não pelo seu corte ideológico mas pelo roteiro, diálogos, enquadramento, construção de narrativas, etc.
Os sete diretores, boicotando o Festival de PE e dinamitando a oportunidade de um público especializado fazer seu próprio julgamento sobre os dois filmes, mostram bem que podem até vir a terem muitos filmes em seu catálogo, mas não entendem nada de arte.
E olhando de perto, nem entendem bem de política…