Ontem pude assistir na Globo News um programa sobre colecionadores de brinquedos. Na verdade, algo diferente disso, eram colecionadores de objetos que fazem referência ao universo dos quadrinhos e do vídeo-game.
Parecendo estranho ver adultos divertindo-se com bonecos do Homem-Aranha, será sempre bom lembrar que o mercado é economicamente promissor (soube pela matéria) e hoje é abastecido por reflexões que estão além da cultura meramente popular; já na década de setenta, Umberto Eco se divertia fazendo resenhas aos desenhos animados dos Peanuts ou mesmo escrevendo ensaios sobre o “Super-Homem” (não o nietszchiano).
Será bom lembrar, mas não fará que a coisa deixe de causar um certo desconforto. Agora vendo as interessantes fotografias de Sacha Golderberg – onde super-heróis posam com iluminação e textura de mestres flamengos – não concedo o fascínio fácil. Ao contrário, lembro de duas passagens de “O desaparecimento da Infância” de Neil Postman, e termino a postagem com elas:
1) A idéia de infância é uma das grandes invenções da Renascença. Talvez a mais humanitária. Ao lado da ciência, do estado-nação e da liberdade de religião, a infância, como estrutura social e como condição psicológica, surgiu por volta do século dezesseis e chegou refinada e fortalecida aos nossos dias. Mas como todo artefato social, sua existência prolongada não é inevitável. Realmente, este livro nasceu da minha percepção de que a idéia de infância está desaparecendo, e numa velocidade espantosa… (p.12) ;
2) Em nossa cultura considera-se hoje desejável que a mãe não pareça mais velha do que sua filha. Ou que a filha não pareça mais jovem do que sua mãe. Se isto significa que a infância está desaparecendo ou que a idade adulta está desaparecendo é apenas uma questão de como se deseja enunciar o problema. (…) Nosso ambiente informacional elétrico está fazendo desaparecer a idade adulta (p. 112).
“Ambiente informacional elétrico” – aí parece estar a chave para esta sensibilidade curiosa de nossos dias. O livro inteiro de Postman é sobre o tema, e sugiro vivamente, frente a matérias sobre bonecos do Batman para adultos, que recuperemos esse livro já. Para comprar clique aqui.
por Leandro Oliveira